BAD
30-03-2018
Convocação para o Pan gera revolta de atletas contra CBBd
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A Confederação Brasileira de badminton (CBBd) divulgou na terça-feira a
convocação para a disputa do Campeonato Pan-Americano, que será disputado entre
26 e 29 de abril, na Guatemala. A lista, no entanto, não foi bem recebida e
considerada injusta por boa parte dos jogadores do país por causa da presença
de dois jovens, Fabrício Farias, de 17 anos, e Jaqueline Lima, de 16, com
pouquíssima experiência em torneios adultos, e também de Luana Vicente,
convocada para as duplas, mas que há mais de um ano não participa de nenhuma
competição.
Logo que os nomes foram divulgados, maior nome do badminton brasileiro,
Ygor Coelho se manifestou em suas redes sociais. “Onde está o respeito com
todos os atletas que disputam o nacional? Lamentável isso! Sei que eu sou
atleta de alto rendimento, mas não consigo não ficar chateado com essa situação!!!”,
escreveu. Em seguida, em entrevista ao Olimpíada Todo Dia, pegou ainda mais
pesado nas críticas. “Acho que é uma Seleção por escolhas do presidente e não
por mérito. Não é meritocracia, é burocracia. Eu estou muito chateado porque é
uma falta de respeito com o Brasil inteiro. Por isso que muitas pessoas
desistem de jogar o nosso esporte. Eu acho que com os Jogos Olímpicos
apareceram novos atletas, mas também várias pessoas desistiram porque sabem que
o sistema é podre. Essa é a verdade!”, reclamou o atleta.
Superintendente da CBBd, Beto Santini defende que tudo foi feito dentro
das regras aprovadas pelos presidentes de todas as federações. “O regulamento
técnico da confederação, que está disponível no site, votado pela maioria dos
presidentes e aprovado no Encontro Nacional de Badminton em 2016, foi uma
sugestão na época da comissão de atletias e diz que o critério para a definição
dos participantes no Campeonato Pan-Americano é convocação. E convocação é
aspecto técnico, de análise de performance, de comparação do técnico da Seleção
Brasileira e ele convoca os atletas que ele entende que compõem a melhor
formação naquele momento com os objetivos que a Confederação tem naquela
demanda, no caso o Campeonato Pan-Americano. Obviamente que todo processo de
convocação gera satisfação de um lado e insatisfação de outro. Isso é normal em
qualquer modalidade. Injusto e ilegal é a gente não seguir regulamento. E
estamos seguindo o regulamento”, acredita o dirigente.
Foram convocados oito atletas, que terão as despesas de transporte,
hospedagem, alimentação e inscrição bancados pela CBBd. No masculino, as presenças
de Ygor Coelho, melhor atleta brasileiro da história e atual 30º. colocado no
ranking mundial, e Artur Pomoceno, líder do ranking nacional, são
incontestáveis, assim como de Fabiana Silva, melhor brasileira no ranking
mundial adulto. Já Matheus Voigt, que forma com Pomoceno a dupla brasileira
melhor colocada no ranking, vai para o Pan como duplista. Os nomes mais
questionados mesmo são os de Fabrício Farias e Jaqueline Lima, além das
irmãs Lohaynny e Luana Vicente.
“Fiquei chateado com a convocação
e realmente não entendi o porque de chamarem um menino Sub-19 no meu lugar para
jogar um campeonato adulto, sendo que sou o atual campeão brasileiro”, reclama
Mateus Cutti, de 22 anos, que acabou preterido para dar lugar a Fabrício
Farias. Apesar de não estar na convocação da CBBd, o nome dele aparece na lista
de classificados para Pan-Americano, mas, para participar terá que arcar com os
custos detransporte, hospedagem e alimentação, que serão bancados pelo
Pinheiros, clube que ele defende. “Fico feliz por ter classificado sem depender
da Confederação e tenho que agradecer por estar no maior clube esportivo do Brasil,
que tem recursos para me levar para o Pan”.
Fazem parte dessa lista de classificados, além de Mateus Cutti, Bianca
de Oliveira Lima, no feminino, Francielton Farias/Luiz Henrique dos Santos
Jr e Mariana Pedrol/Thalita Correa nas duplas e Luiz Henrique dos
Santos Jr/Mariana Pedrol nas duplas mistas, mas não se sabe ainda se todos
poderão participar por causa dos altos custos.
A justificativa para a convocação de Fabrício Farias e Jaqueline Lima
não tem nada a ver com nenhuma competição adulta e sim com os Jogos Olímpicos
da Juventude, que serão disputados em Buenos Aires no segundo semestre. “O
Fabrício Farias é o 26 do mundo juvenil e a Jaqueline Lima é 58. São resultados
significativos e que essa competição do Pan-Americano adulto pode ajudá-los com
a pontuação a garantir vaga nos Jogos Olímpicos da Juventude porque o período
de classificação termina agora no final de abril. Ou seja, essa competição pode
definir os atletas como classificados para os Jogos Olímpicos da Juventude. E a
gente não tem nenhum outro atleta juvenil em condições de classificação. Se
tivéssemos mais dois atletas juvenis, na mesma situação que eles, com condições
de brigar pela classificação para os Jogos Olímpicos da Juventude, eles com
certeza seriam convocados”, explica Beto Santini.
O argumento, no entanto, é rebatido por Ygor Coelho, que representou o
Brasil na Olimpíada da Juventude em Nanjing, em 2014. “Eu sei que
esse Pan-Americano é muito importante para o Fabrício por causa dos Jogos
Olímpicos da Juventude, mas como é uma seleção adulta deveria ser formada por
adultos”, reclama. Para Ygor, os mais jovens até poderiam fazer parte da
Seleção e ir para o Pan, mas desde que provassem ser melhores que os adultos. O
atleta defende a ideia de que uma seletiva seria o ideal para definir os
representantes. “Eu poderia até voltar para o Brasil para jogar a seletiva se
eles quisessem”, garante. “Seletiva seria mais justo se todos os atletas
participassem dela”, concorda Mateus Cutti.
Apesar da proposta dos atletas por uma escolha menos subjetiva, não é
isso que diz a regra vigente e a convocação foi responsabilidade do técnico
português Marco Vasconcelos, que desde 2013 dirige a Seleção Brasileira. “É
importante termos dois atletas na Olimpíada da Juventude. É interesse nacional.
É interesse da modalidade. É importante para a visibilidade positiva do nosso
esporte. Além disso, esses dois atletas têm uma margem de progressão grande e
nós queremos trabalhar com esses atletas a longo prazo”, explicou o português,
que usou como argumento também os Jogos Pan-Americanos de 2019, que serão
disputados em Lima, no Peru.
“Nós estamos pensando lá na frente para construir e preparar um time
para os Jogos Pan-Americanos. É nesse conceito que estamos trabalhando também
com atletas mais jovens para daqui um ano estar com um time competitivo para
atingir os objetivos. O que pouca gente sabe é que o Pan-Americano desse ano vale
5500 pontos e só podem jogar atletas da área pan-americana. É uma vantagem que
nós temos de não enfrentar asiáticos e não ter europeus em um torneio com tanto
valor. Então, temos que aproveitar o campeonato para pensar não só no momento
atual como no que vem a seguir. Não existem regulamentos perfeitos e às vezes
não existem decisões perfeitas, mas temos que olhar lá na frente. No ciclo
passado, encontrei um grupo já formado, com alguns problemas técnicos e táticos
e com atletas com idades um pouco avançadas e foi difícil trabalhar com esses
atletas, mudar alguns hábitos, mas era o que nós tínhamos e foi com eles que
nós trabalhamos”, comparou.
O detalhe é que os preteridos também são jovens. Mateus Cutti tem 22
anos e Cleyson Nobre do Santos tem 19. Outro que manifestou sua indignação é
Jonathan Matias, de 19. “Batalho todo dia para crescer no badminton. Sou o
atual número 1 do ranking nacional sub-19, prata no pan-americano e bronze no
sul-americano dessa categoria. Ver que eu não fui selecionado, mas que outro
atleta da minha categoria foi só porque ele teve dinheiro para competir lá fora
me desmotiva muito. Para que batalhar se depois vem essas convocações
subjetivas?”, questionou em uma postagem nas redes sociais.
Diferente dos outros, Jonathan Matias teve a oportunidade de jogar duas
vezes contra Fabrício Farias no ano passado. Ambas as partidas foram
equilibradas e definidas apenas depois de três sets. Na primeira, Jonathan
venceu na etapa de São Paulo e depois conquistou o título. Na segunda, Fabrício
deu o troco e depois também avançou para ser campeão da etapa de Teresina. Os
resultados mostram que os dois têm níveis muito semelhantes. A questão é que
Fabrício foi competir fora do país e não participou das outras duas etapas do
circuito, que foram vencidas do Jonathan, que se garantiu na primeira colocação
do ranking com três títulos em quatro etapas disputadas. Mas a liderança de
nada valeu na hora da escolha dos convocados.
Nos bastidores do badmiton, a acusação é a de que Fabrício Farias e
Jaqueline Lima sejam “protegidos” da CBBd. Ambos competem pelo Joca Claudino,
clube da cidade de Teresina, mesmo local onde fica a sede da Confederação.
Segundo os atletas ouvidos pelo Olimpíada Todo Dia, os dois foram os únicos que
tiveram condições de viajar e competir fora do país a ponto de conseguir
posições no ranking mundial que os deixaram na briga pelas vagas nos Jogos
Olímpicos da Juventude. Ao todo, eles disputaram 11 torneios internacionais. A
entidade, no entanto, nega qualquer tipo de favorecimento.
“Quem está pagando as custas desses dois atletas é o clube deles, o
Joca. A Confederação não paga nada. Acabamos de aprovar a prestação de contas
de 2017 por unanimidade. Não tem nenhum custo coberto pela CBBd. O badminton
tem que entender que os clubes devem investir. A Confederação não é a mãe de
tudo, a Confederação não tem recursos, com R$ 2 milhões por ano, para sustentar
todos os atletas que tenham desejo de competir no circuito”, garante Beto
Santini.
Outro motivo de reclamação foi a presença de Luana Vicente entre as
convocadas. Quem reclamou dessa vez foi Thalita Correa, primeira colocada no
ranking de duplas junto com Mariana Pedrol. “Gostaria de saber o que um atleta
que esta em 1° lugar do ranking brasileiro, que participa de todos os torneios
de forma exemplar, obtendo resultados dentro e fora de quadra, que não usa de
má fé com seus adversários e companheiros, que não precisa se expor de forma
humilhante e que nunca questionou a administração do CT (Centro de Treinamento)
precisa para ser convocada para um torneio? E como uma atleta que esta há muito
tempo parada pode utilizar toda a infraestrutura do CT da CBBd (técnicos,
quadra, petecas) que era para estar disponível apenas para treinamento de
atletas que fizeram por merecer estar ali? Perdi a vaga do Pan para uma atleta
que não joga há mais de um ano. Isso tudo é ridículo, como conseguem fazer isso
com atletas que realmente se dedicam? Isso é desanimador para qualquer atleta
porque sabemos que por mais que treinemos e se dediquemos, jamais vamos ser
convocados. Isso tudo devido a algum luxo de vocês com a atleta Luana Vicente
que nao valorizou as oportunidades que teve, e vocês sabem disso. Não tenho
nada contra a atleta citada acima, este singelo texto está destinado à péssima
administração que temos no badminton deste país chamado Brasil”, postou a
jogadora.
Luana é irmã de Lohaynny Vicente, que foi a representante do Brasil nos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. As duas, juntas, conquistaram a medalha de
prata nas duplas nos Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015. No ano seguinte,
no entanto, Luana se envolveu numa grande confusão. Ela foi acusada de furtar o
cartão de uma colega dentro da concentração da Seleção Brasileira, em Campinas.
O caso gerou uma punição à atleta, que foi suspensa pelo STJD da CBBd por duas
competições. Agora, depois de mais de um ano sem disputar uma competição, ela
foi chamada de volta para representar o país.
“A Luana é uma atleta que tem um potencial enorme no badminton. Ela está
realmente sem competir há um ano, mas atendendo aos objetivos e metas bem
definidas que temos, achei que ela está dentro dos critérios técnicos e táticos
para compor esta equipe que vai ao Pan-Americano, pensando no objetivo final
que são os Jogos Pan-Americanos de 2019. Acredito que no atual momento não
temos atletas para renovar a Seleção feminina adulta, especialmente a dupla
formada pela Luana e pela Lohaynny. Ainda não temos outras atletas, além delas,
que possam jogar essa disciplina e brigar por um lugar no pódio. Apesar de
termos tido problemas com a Luana, nós decidimos dar a ela uma oportunidade de
ser integrada nos trabalhos da Seleção e de realmente mostrar o potencial que
ela tem”, explicou o técnico Marco Vasconcelos.
Aliás, a própria convocação de Lohaynny Vicente é polêmica. Melhor
atleta brasileira no último ciclo, tanto que foi a representante do país na
Olimpíada do Rio de Janeiro, ela mal competiu em 2017, quando terminou apenas
na 15ª. colocação no ranking nacional. Perdeu os primeiros meses do ano por
causa de uma cirurgia para a redução dos seios e depois passou seis meses na
Dinamarca, autorizada pela CBBd, para tentar desenvolver seu jogo. A seu favor,
no entanto, está o fato dela ter sido campeã em Teresina, na única etapa que
disputou do circuito nacional no ano passado.
“A cirurgia foi feita porque a equipe médica tinha identificado que
seria necessária pelo simples fato de prejudicar o rendimento da atleta e
depois concordamos com a ida dela à Dinamarca porque é um dos países mais
desenvolvidos na modalidade. Mas ela não gostou muito da experiência e voltou,
está conosco e é, assim como a Luana Vicente, uma atleta jovem, tem 21 anos,
apresenta níveis táticos, técnicos e físicos excelentes, ainda está no auge da
sua carreira e ainda não encontrei uma atleta com capacidade de substituí-la na
seleção nacional”, defendeu o treinador, que, apesar das escolhas feitas, não
fechou as portas para outros atletas representarem o país.
“Nós temos que preparar uma equipe homogênea com atletas adultos e
jovens para podermos ter uma transição entre o ciclo de 2016 a 2020 para o
ciclo de 2020 a 2024. Nosso objetivo é formar atletas mais jovens e trazer para
a Seleção. Mas este foi um momento pontual. Esta não é a Seleção permanente,
que fique bem esclarecido. É um momento pontual, o Pan-Americano de 2018, na
Guatemala. Depois, na Seleção permanente serão dadas oportunidades aos atletas
que estão insatisfeitos de correr atrás de um lugar nas convocações
internacionais”, prometeu Marco Vasconcelos.
O plano técnico é contar com 24 atletas na Seleção permanente, mas
dificilmente será possível cumprir. Por conta da queda de investimento em
relação ao ciclo para 2016, é provável que essa equipe tenha, no máximo, entre
10 e 12 atletas. O trabalho vai se iniciar em junho, após a disputa dos Jogos
Sul-Americanos. Até lá, a Seleção também terá uma nova sede. A equipe vai
deixar Campinas e o acordo com uma nova cidade está prestes a ser anunciado. É
fato também que o CT construído em Teresina ainda não será utilizado porque
está inacabado. Ainda falta a colocação de ar condicionado para que o local
tenha condições de abrigar os treinamentos da Seleção principal.
Além disso, o superintendente Beto Santini revelou que, por sugestão da
CBBd, uma nova regulamentação para a formação da Seleção Brasileira foi votada
e aprovada no Encontro Nacional de badminton, que terminou nesta quarta-feira
em Foz do Iguaçu. “É uma regulamentação mista entre o que era e o que ficou e
vai ser divulgado posteriormente e com aplicação já para 2019. Foi aprovada por
15 dos 17 presidentes presentes no momento da votação”, contou o dirigente, sem
revelar exatamente o que vai mudar.
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